Maputo não é
província (./?)
As palavras são multifuncionais na vida de muitos indivíduos. É através das palavras (também) que estabelecemos comunicação uns com os outros de forma escrita assim como de forma oral. É lícito que nos sirvamos das palavras para felicitar, para expressar sentimentos, para ofender e várias outras funções.
Talvez seja pior propagar ofensas por meio de violência física pelo facto desta deixar, reluzentemente, explícitas as consequências. Talvez, mas lancemos especial atenção às ofensas verbalizadas, as que ouvimos e nos remetem imediatamente à situações concomitantes. O que nos faz chamar Inhambane, Gaza, Manica, Sofala, Cabo Delgado, Zambézia, Nampula, Niassa e Tete de províncias e à Maputo não? É corriqueiro ouvir os nossas pares a dizerem com exuberância e veemência "não gosto de pessoas das províncias", "a agir dessa maneira, só pode ser das províncias", "lá nas províncias apoia-se os ritos de iniciação", " as pessoas das províncias", nota-se que há uma clara separação sócio-lexical que se tenta estabelecer entre Maputo e "os outros", não considerando Maputo uma província.
Sendo um indivíduo natural de Cabo Delgado, não é de Cabo Delgado, é das “províncias” e nem se trata de um erro de flexão do número, é mesmo assim. Mas há uma novidade, é possível que se seja ou que, pelo menos, não se pertença à “províncias”. A Cahora Bassa em Songo, o carvão em Moatize não são das províncias, mas “nossos”, são de Moçambique. O Ferroviário da Beira chegou às meias-finais da Liga dos Campeões Africanos, então já não era das províncias, era mesmo da Beira, Sofala ou “nosso”.
Chamar às outras juntas ou separadas " províncias " é descredibilizar as diferenças de cada região, é, pelo menos, dizer que Maputo sendo ou não província, de qualquer forma não está ao nível de qualquer uma das das outras regiões do país, significa alargar semanticamente o termo " província " e passar (também), pelo que verificamos, a significar "o inculto, o outro, o do campo, o estranho" em como se todo o Maputo fosse, no mínimo, não campo, não inculto, não o estranho. Eis que perguntamos aos nossos pares (todos os falantes moçambicanos do português desde os menos letrados aos mais letrados), existirá, como na teoria de X-barra, uma categoria intermédia que nos permita (re)subcategorizar o item lexical em referência? Será que Maputo não é província?
07.05.2018 03:03PM
De: Jaime Silito Bonga
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